MELHOR É POSSÍVEL
FILAREE - UMA FLOR PARA
MELVIN UDALL
*
Estudo arquetípico por
Rosângela Teixeira
*personagem vivido por Jack Nicholson no filme Melhor Impossível da Columbia TriStar Pictures
Flower in the crannied wall,
I pluck you out of the crannies,
I hold you here, root and all, in my hand,
Little flower- but if I could understand
What you are, root and all, and all in all,
I should know what God and man is.
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Flor, na parede com fendas,
Eu te arranco das fendas,
Seguro-te, aqui, com raiz e tudo, em minha mão,
Pequena flor, mas se pudesse compreender
O que és, com raiz e tudo, e tudo em tudo,
Eu conheceria o que Deus ehomem são
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— por Alfred, Lord Tennyson (1809 -1892)
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Para Patrícia Kaminski e Richard Katz
1
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Filaree
é a essência floral indicada para aquela pessoa que gasta grande parte de seu tempo e de sua energia psíquica absorvida em pequenos problemas e preocupações. Deve ser a essência indicada quando alguém precisa fazer uma mudança fundamental em sua perspectiva, dando a proporção e a dimensão adequadas aos problemas da vida diária. Segundo Cláudia Stern², com Filaree é possível aliviar a preocupação excessiva com os problemas cotidianos, devendo ser usada para pessoas detalhistas, obsessivas, compulsivas, tensas, que se fixam em tudo e, também, para quando realizam rituais de qualquer tipo.
Sob este olhar,
Filaree
poderia ser considerada como a essência floral melhor adequada para trabalhar o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).
O cinema tem sido utilizado como excelente recurso terapêutico, pois possui grande poder transformador na medida em que estabelece um diálogo entre conteúdos do nosso inconsciente coletivo, permeado por mitos e símbolos que fazem parte da psique de toda a humanidade. A ficção é capaz de mostrar-nos com propriedade e maestria, forças e fraquezas da alma humana e as conseqüências nefastas de imaginações exaltadas. Já diziam: a arte é o espelho da vida...
Apropriando-se de todo este poder, o cinema deu um rosto ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo no filme Melhor é Impossível (As Good at it Gets) de 1997, dirigido por James L. Brooks, roteiro de Mark Andrus com atuações primorosas de Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear, Cuba Gooding Jr., Skeet Ulrich, Shirley Knight, Yeardley Smith, Harold Ramis e o cachorrinho Verdell. Ganhador de dois Oscars e três Globos de Ouro.
O filme apresenta a história de Melvin Udall (Jack Nicholson), escritor extremamente bem sucedido, adorado pelas mulheres pela forma como escreve sobre o universo feminino, mas com aversão a todas as criaturas vivas. Nicholson deu vida a um ser insuportável que não pensava duas vezes antes de ofender alguém, também portador do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). No entanto, nas mãos de Nicholson, ele se tornou uma personagem adorável e por incrível que pareça todas as coisas terríveis que fazia, acabavam tornando-o ainda mais simpático e engraçado aos olhos do público. James Brooks achou melhor optar por dar uma visão cômica ao Transtorno ao invés de mergulhar no imenso sofrimento que estas pessoas vivem. Esta abordagem fica clara quando à medida que o filme se desenvolve, o espectador observa com prazer uma mistura bem dosada de momentos ridículos, trágicos, cômicos e desesperadores ao mesmo tempo.
Na agitada New York, Melvin passa grande parte do seu dia em casa escrevendo e vivendo num mundo do tamanho do seu quarto. Saindo todos os dias, apenas, para almoçar numa mesma lanchonete, para onde vai carregando seus próprios talheres esterilizados e onde exige ser atendido sempre pela mesma garçonete, Carol Connelly (Helen Hunt), cujo filho de 9 anos sofre de asma crônica. Além disso, ele tem que conviver com seu vizinho Simon Bishop (Kinnear), um pintor gay que possui um cachorrinho (Verdell, num ótimo desempenho).
Tendo como centro estes 4 (quatro) personagens, o roteiro de Mark Andrus e James Brooks se desenrola de maneira envolvente e divertida, apesar dos dramas que relata e do potencial sensível que a história oferece: Carol e a doença do filho, a relação entre Simon e seus pais, o comportamento e preconceitos de Melvin.
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Mas o filme Melhor é Impossível é muito mais que um roteiro bem escrito. Não foi preciso grande esforço de Nicholson para estabelecer o ponto alto do filme: a doença de Melvin, portador de Transtorno Obsessivo-Compulsivo, que faz o espectador se deliciar com cada um dos detalhes de sua obsessão.
Logo nas primeiras cenas do filme, a personagem é apresentada como cheio de manias e obsessões. A sintomatologia clássica do TOC vai sendo muito bem caracterizada e evidente durante a projeção, tanto nos aspectos compulsivos, através das repetições de comportamentos, rituais de limpeza, restrições, terror de contaminação, necessidade de simetria, organização e exatidão, como também nas obsessões, quando é capaz de ruminar a mesma idéia por horas e a necessidade que tem de ser preciso nas informações ou na atribuição de valor, o que acaba tornando-o grosseiro com as pessoas.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo ou TOC, como é popularmente chamado, constitui-se um dos quadros mais intrigantes, desafiadores e complexos da Psiquiatria e Psicologia atual.
Caracteriza-se pela presença de obsessões e/ou compulsões recorrentes e suficientemente graves por consumir tempo e causar grande sofrimento ao portador.
Obsessão são pensamentos ou idéias que invadem a consciência de forma repetitiva, persistente e estereotipada, seguidos ou não de rituais. São experimentados como intrusivos, inapropriados ou estranhos. Na tentativa de resistir a eles, a pessoa lança mão de compulsões.
Compulsões podem ser consideradas como comportamentos repetitivos que a pessoa se obriga a desempenhar com o objetivo de anular seus pensamentos ou reduzir a ansiedade que eles provocam. Sem nenhuma conexão real ou direta com aquilo que pretendem evitar tornam-se, por isso mesmo, claramente excessivo. São conhecidas popularmente como “manias”.
Cabe ressaltar que o TOC não é um transtorno raro, pois acomete 2% a 4% da população mundial. Além disso, as pesquisas mostram que há um baixo índice de recuperação: apenas 30%, o que torna o tratamento um desafio para os profissionais de saúde mental, exigindo cada vez mais uma visão holística do tratamento. É colocado pela OMS entre as 10 condições médicas de todas as especialidades, como uma das mais incapacitantes para o indivíduo. Tem curso crônico e progressivo, indicando que à medida que o tempo passa a tendência é o agravamento do quadro. Fica impossível deixar de levar em conta o componente hereditário, que nestes casos, é muito forte, pois existe sempre mais de uma pessoa acometida pelo Transtorno dentro da mesma família.
Os portadores deste tipo de Transtorno apresentam algumas características de personalidade, comuns a todos eles, que são: senso de responsabilidade exagerado; um remoer-se de dúvidas incessantes; excesso de zelo; busca de perfeição inalcançável, tudo em desequilíbrio e hiperfuncionante.
No filme, Melvin reconhece o quanto suas obsessões e/ou compulsões são excessivas, inapropriadas e irracionais, quando Carol lhe pergunta se ele tem noção do quanto é inconveniente. Além disso, o escritor, mesmo sem admitir, sabe que seus comportamentos “esquisitos” lhe provocam perda considerável de tempo, interferindo de forma significativa nas atividades do dia a dia, afetando relações e alterando dramaticamente sua qualidade de vida.
Num show de Psicopatologia, o filme mostra nitidamente o quão ansioso é o humor do escritor, afinal o TOC é um Transtorno de Ansiedade, onde qualquer possibilidade da não realização destes atos acaba gerando intensa ansiedade e angústia ao personagem, quadro típico destas pessoas. Na história, Melvin sofre dois ataques nítidos de ansiedade: quando tem que devolver o cãozinho Verdell e começa a sentir sudorese e dificuldades para respirar; e, também quando chega ao restaurante e vê sua mesa ocupada. A reação de agitação, irritabilidade e agressividade é resultado da impossibilidade de manter seu ritual de sentar-se sempre naquela mesma mesa.
De forma semelhante às qualidades positivas da essência floral Filaree, o envolvimento de Melvin com estes personagens e
, em especial com Carol, faz com que ele comece a olhar o mundo de maneira diferente, enxergando os acontecimentos do seu dia a dia de forma mais ampla, desapegando-se de excessivos detalhes. Já chegando ao término da estória, Melvin diz a ela uma das frases mais bonitas da história do cinema: “YOU MAKE ME WANT TO BE A BETTER MAN”.
Filaree
é uma planta não nativa da Califórnia, introduzida, provavelmente, da Europa no ano de 1700, por exploradores espanhóis. Seu nome científico é
Erodium cicutarium,
um membro diminuto da família das Geraniaceae, que aprecia o deserto, mas não é restrito a este ambiente, pois é altamente adaptável. O nome Filaree refere-se ao filamento longo, de estrutura forte e rígida, suportando flores mínimas. Com cinco pétalas que variam da cor rosa ao roxo, cada flor produz cinco sementes unidas a uma haste longa.
É uma flor ³ mais convencional na aparência do que no comportamento. Ela surpreende quando observamos o trabalho incomum de suas sementes. Como mostra a figura 1, as sementes apontam para atmosfera e dão início a uma sequência surpreendente: um fascinante balé em torno de si mesmo, girando em espiral, dirigindo a semente até o ponto que ela considera ideal, um terreno de solo e condições climáticas adequada para germiná-las.
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Caso a semente aterre em terra nivelada, esta ação giratória empurrará a semente longitudinalmente. Se isso não ocorrer e a semente aterrar em um local obstruído, Filaree fará novo giro em espiral, na tentativa de perfurar-se no solo de forma ideal. Além disso, esta flor mostra uma grande preocupação com a temperatura, ou seja, quando esta cai, a cauda inverte sua espiral, perfurando a semente mais profundamente. E quando a cauda começa a secar, Filaree sabe que precisa torcer a semente mais uma vez, para deixá-la, então, na posição adequada para germinar com segurança. As forças da natureza e o projeto fabuloso destas sementes levam-na a plantar-se de forma, obsessiva, metódica e sistemática, somente na profundidade certa. Mas todo o ritual é realizado na busca de um grande objetivo: de que a germinação aconteça de forma adequada. Rodear, girar, dar voltas repetidas vezes para germinar. É mágica? Acho que não!
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Filaree
é o arquétipo positivo das pessoas que realizam suas tarefas com detalhes, minúcias e perfeição. A comparação, que eu considero mais impressionante entre Melvin e
Filaree
, são as repetições dos atos, incansáveis e obsessivos que os dois realizam.
A flor cumpre um ritual dramático, até, quando joga suas sementes para germinar, assim como Melvin ao realizar seu ritual de lavar as mãos, abrir e fechar a porta, andar sem pisar nos rejuntes da calçada, etc. É obsessiva, tanto quanto a personagem do filme, quando ela busca o local e a posição adequados para que suas sementes germinem, enquanto Melvin é obsessivo em freqüentar o mesmo restaurante, sentar-se na mesma mesa, pedir sempre o mesmo prato e exigir ser atendido sempre pela mesma garçonete. Incansável nos seus giros até sentir-se segura para deixar ali suas sementes, do mesmo modo que o escritor desfruta de uma sensação de completude ao repetir exageradamente e exaustivamente seus rituais. Mas com a essência
Filaree
não há gasto inútil de energia e sim o desejo de realização. O planejamento e a organização de suas ações substituem a necessidade de rituais sistemáticos. A repetição dos seus giros mostra a perseverança e firmeza na obtenção de seus objetivos.
Patrícia Kaminski e Richard Katz descrevem com objetividade o drama vivido pelos pacientes com TOC, quando se referem à essência Filaree. Ela diz: “Há momentos em que uma alma perde sua perspectiva apropriada, emaranhando-se por completo e se preocupando em demasia com os assuntos mundanos da vida diária. Essa pessoa gasta grande parte de seu tempo e de sua energia psíquica absorvida em pequenos problemas e preocupações compulsivas. Tal pessoa precisa direcionar sua energia psíquica e física para tarefas realmente produtivas; caso contrário, o destino maior ficará sem ser cumprido ou será atendido parcialmente. Ela tem imensas forças e reservas interiores, que podem ser muito valiosas quando adequadamente canalizadas”
4
. (Repertório das Essências Florais, página 306).
1 and 4 Kaminski, Patrícia e Katz, Richard (Flower Essense Repertory)– Repertório das Essências Florais: um guia abrangente das essências florais norte-americanas e inglesas para o bem estar emocional e espiritual.
Pages 305 e 306
2 Stern, Claudia – Remédios Florais da Califórnia.
Page 77
3 Research from www.kaweahoaks.com/html/filaree.html
www.library.thinkquest.org/2899/currics/fabfilintr.html
Article Filaree by Arthur Lee Jacobson
retirado do site www.arthurleej.com/index.html
Rosângela Teixeira is a clinic psychologist specializing in psychosomatics medicine and has extensive clinical experience with flower essence therapy. She attended the Practitioner Training at Instituto Cosmos in 2005 and other trainings with Rosana Souto in regard to the FES essences and astrology.
Presently, Rosângela is the Teaching and Research Vice-Director of
Rioflor
– Rio de Janeiro’s flower essence therapist association. She writes a column for their monthly e-magazine – Mulheres Inteligentes (Inteligent Women). Under the coordination of Lizete de Paula, she is also a volunteer at Projeto Gotas de Bençãos (Drops of Blessings Project), a social service program attending to children and teenagers who live in special villages called Aldeias Infantis SOS (SOS Infant Villages). Rosângela also belongs to the board of teachers of Universidade Federal do Rio de Janeiro – Specialization in Flower Essence Therapy courses. She is now an authorized teacher of the Healingherbs education program in Brazil and recently she taught about her own clinical experience in a workshop about anxiety disorders, panic syndrome and Obsessive-Compulsive Disorder.
rosangelateixeira.floral@gmail.com
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